Estação
das chuvas, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, reproduz a investigação
do narrador, que é um jornalista, sobre a vida da poeta e historiadora angolana
Lídia do Carmo Ferreira que desapareceu misteriosamente no recomeço da guerra
civil angolana, em 1992.
O
livro começa à meia-noite de 11 de novembro de 1975, quando o povo comemora a
independência de Angola e Lídia acorda sonhando com o mar, que segundo sua avó
Nga Fina, sonhar com o mar é sonhar com a morte.
Neste
livro os limites entre ficção e realidade se misturam a tal ponto que o leitor
não consegue saber até onde vai a realidade e onde começa a ficção, e
virse-versa.
O
narrador, que se correspondeu com Lídia do Carmo Ferreira enquanto ambos
estavam na prisão, sai em busca de seu paradeiro, fazendo entrevistas com
personagens, coletando informações e completando as lacunas com suposições, já
que ele mesmo admite: “É assim, pelo menos, que imagino a cena (eu não estava
lá)”.
Na
narrativa se apresentam citações de jornais, depoimentos, entrevistas, etc., o
que só ajuda a confundir o leitor sobre o que é ficção ou realidade. Narra-se
os fatos desde antes da independência de Angola, em 1975, até o desaparecimento
de Lídia do Carmo Ferreira em 1992. Mostrando o engajamento político da poeta,
assim como diversos escritores de Angola que fundaram o MPLA (Movimento Popular
de Libertação de Angola).
A
escrita é fácil, porém apresenta várias siglas de diferentes partidos e
organizações, deixando a leitura mais lenta. Também apresenta vários
personagens e situações que muito nos lembra o realismo maravilhoso e que me
fez lembrar as histórias contadas por minha avó e bisavó.
“Lídia
pensou nas estórias de assombrações e cazumbis que a velha Fina costumava
contar. Uma, especialmente, a trazia em sobressalto: a das feiticeiras cujas
línguas se soltam dos corpos, iam de rastos pela noite, entravam nas casas e
atacavam as crianças adormecidas, estrangulando-as. A velha Fina contava que há
muitos anos uma sua amiga, ainda moça, acordara de noite, vira ao pé da cama
uma destas línguas e a matara a golpes de machete. No dia seguinte, descobrira
que sua mãe estava muda.”(p. 47)
Assim,
em Estação das Chuvas temos a história de Angola narrada ao lado de histórias
fantásticas, de forma que prende o leitor da primeira a última página.
"Estação das chuvas", José Eduardo Agualusa, Rio de Janeiro: editora Língua Geral (coleção Ponta de lança), 2a. edição, revista (2010), brochura 13x18 cm, 344 págs. ISBN: 978-85-60160-68-6 [edição original: edições Dom Quixote (Portugal) 1996]
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